Mais um Conversa de Rua saindo do forno. A crônica de João Paulo da Silva de hoje trata de um diálogo entre pai e filho sobre o objeto de desejo do garoto e a dificulade do pai em atender. As vozes são de Giambatista Brito e seu filho de sete anos Caio Marques.
Desta vez publicamos o áudio em um outro serviço de armazenamento, também gratuito, o lifelogger. Quem quiser pode acessar a conta do Molotov lá clicando aqui. Mas para ouvir não precisa ir lá não. É só clicar no "play" aí embaixo. Não esqueçam de deixar a opinião nos comentários.
A caneta de dez cores
Por João Paulo da Silva
Alfredo lia o jornal quando o filho de seis anos se aproximou com uma caneta na mão e disse:
- Pai, quero outra caneta. Esta não funciona mais.
- Amanhã eu compro, filho. – respondeu sem tirar os olhos do jornal.
- Mas tem que ser igual a do Maurício.
- Por quê?
- Porque ela é grande, bonita e tem dez cores.
- Dez cores?! – assustou-se.
- Isso mesmo, pai. Dez cores.
Alfredo fechou o jornal, coçou a barba, olhou tristemente para o menino e falou:
- Desculpe, filho. Deve ser muito cara. Eu não posso comprar.
- Por quê?
- Porque nós somos pobres.
- Mas só nós?
- Não, filho. Um montão de gente também é.
- Poxa! É ruim ser pobre.
- É, filho. Se é.
- Por que é que o pai do Maurício pode comprar a caneta?
- Ele deve ser rico.
- Existe muita gente rica?
- Acho que sim, filho.
- Mais do que pobres?
- Com certeza que não.
O garoto calou-se por um instante, parecia estar submerso nos próprios pensamentos. Olhou intrigado para o pai e perguntou:
- Por que é que as coisas são assim?
- Assim, como?
- Uns podem ter. Outros, não. Uns são ricos e outros são pobres. Por quê?
Alfredo pensou, coçou novamente a barba e respondeu:
- São as regras, meu filho.
- Regras?
- Sim. Esse mundo em que vivemos tem suas regras. São elas que dizem o que a gente pode ou não fazer.
- Também são elas que dizem quem é pobre e quem é rico? – quis saber o menino.
Alfredo balançou a cabeça numa afirmativa.
- Não gosto das regras, pai.
- Eu também não, filho. Eu também não.
Fez-se um curto silêncio e, então, o menino disse:
- Sabe o que é que eu acho, pai?
- O quê?
- Todo mundo deveria ter canetas de dez cores.
4 comentários:
bem melhor esse podcast. "esse conversa" de rua ficou muito bom
isso é o q acontece qd a arte se funde com o pensamento revolucionário, nos proporciona prazer e ao mesmo tempo nos desperta pra o mundo.
Achei que ficou muito bom, gostei muito, mas quero dar uma sugestão: acho que o audio deveria ser adaptado. a liguagem falada não é a mesma da escrita, tem passagens no texto que não precisam ser ditas no podcast, tipo as que identificam a pessoa que está falando ou expressões dos personagens.
ex:
"– assustou-se."
"Fez-se um curto silêncio e, então, o menino disse:"
uma outra alternativa é que a narração pudesse ser feita por um terceira pessoa, se bem que a voz do giambatista é muito boa!!
Excelente história! Pois a mesma nos da uma ótima idéia de como educar as crianças,assim,não aceitando as "regras".
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