O jornalista Hélio Fernandes publicou artigo em sua coluna no Tribuna da Imprensa sobre a grande mentira da semana que é o "fim" da dívida externa brasileira.
Segue o artigo:
O BC engana a opinião pública, a mídia aplaude
A farsa da dívida externa, a fraude da dívida interna
Os madrugadores ansiosos que consultam as edições on-line dos jornais souberam primeiro. Mas os leitores normais souberam só pela manhã: "O Brasil já tem recursos para pagar TODA a dívida externa". Não esqueceram desse TODA, que não é elucidativo mas iliminativo.
Alguma verdade? TODA a verdade? Por que o estardalhaço (manchete em diversos jornais, privilégios em todos os noticiosos de televisão), exatamente neste momento? Interessante que a mídia aceitasse tudo, sem explicação.
Vou sumarizar, revelar apenas os números verdadeiros e questionar o que o BC (de Meirelles, do alto dos seus 6 processos por crimes financeiros) publicou.
Em 1960, a "dívida" externa atingiu 1 BILHÃO de dólares. Em 2000, chegou a 235 BILHÕES. Quer dizer: em 40 anos a DÍVIDA cresceu 235 vezes, é muita indignidade. E mais: nesses 40 anos, o Brasil pagou de juros dessa DÍVIDA inexistente mais de 600 BILHÕES de dólares.
Por que em 2008, 8 anos depois de ter estado em 240 BILHÕES, essa DÍVIDA que começou em 1822 (com a Independência que não houve) caiu para 183 BILHÕES? O Brasil teria pago 57 bilhões do principal? Nada disso, tudo "menas" verdade.
O que aconteceu: há mais de 10 anos, os que tinham títulos do Tesouro Nacional, que rende entre 3 e 4 por cento, descobriram a DÍVIDA INTERNA, que com FHC chegou a pagar juros de 48 por cento, um crime hediondo contra o País e os 180 milhões de brasileiros.
Esses emprestadores, que não são trouxas (como os que enriquecem Edir Macedo), logo, logo mudaram a DÍVIDA. Da externa passaram para a interna, que paga a maior remuneração do mundo. Assim, qualquer um é capaz de perceber que a DÍVIDA externa teria que cair como caiu, enquanto a interna teria que subir, como subiu.
Portanto, nem o governo FHC nem o de Lula têm qualquer mérito na situação apregoada com a maior irresponsabilidade. Primeira pergunta: como é que os dois governos acumularam esses 187 bilhões e 500 milhões para "empatarem" com a DÍVIDA externa? Elementar, trocaram a moeda boa nacional pela moeda podre dos Estados Unidos. E por causa disso, há 30 anos peço A-U-D-I-T-O-R-I-A da DÍVIDA EXTERNA e há menos tempo da DÍVIDA INTERNA.
Primeira resposta: e se o Brasil tivesse investido esses 187 bilhões e 500 milhões de dólares, até onde teríamos ido em matéria de desenvolvimento?
Segunda pergunta: como é que o Brasil até 2006 conseguiu pagar, só de juros, anualmente, 180 BILHÕES de dólares? Não pagava todo esse total, apenas a metade, a outra metade jogava no montante ou no total da DÍVIDA, que assim vai sempre crescendo. (Desde os anos 60, economistas que serviram a diversos governos criaram a frase que seguiam inflexivelmente: "Dívida não se paga, dívida se administra").
Segunda resposta: como é que o governo "arranjava" esses 90 bilhões para pagar metade da DÍVIDA interna? Como diz sempre o mesmo presidente do Banco Central: "ECONOMIZANDO". Economizando, isso não é surpreendente? Traduzindo: o governo assumiu o compromisso com o FMI de pagar pelo menos 4,5% do PIB dessa DÍVIDA. Não economizou nada, deixou de investir, preteriu o espetáculo do desenvolvimento, preferiu ficar bem com o FMI.
Por hoje bastam esses dados. Mas para desmascarar os jornalões, que dizem "pela primeira vez o Brasil se encontra nessa situação", vou mostrar os dados verdadeiros.
PS - De 1940 a 1950, o Brasil teve formidáveis saldos externos. E não existiam as duas dívidas. Também não foi muito mérito de Vargas. Em plena guerra, o Brasil era o único vendedor, todos os outros eram compradores.
PS 2 - Veio então o marechal Dutra, desbaratou esse saldo formidável. Se entregou aos americanos, especialistas em comprar ouro a preço de matéria plástica e vender matéria plástica a preço de ouro.
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