domingo, 27 de dezembro de 2009

Waldemar Rossi: 2009 – avanços e retrocessos

O portal Correio da Cidadania publicou artigo de Waldemar Rossi, coordenador da Pastoral Operária da arquidiocese de São Paulo, fazendo a avaliação do ano que se finda. Publicamos na íntegra o artigo.

2009, avanços e retrocessos

O ano de 2009 vem sendo marcado por avanços e retrocessos das forças sociais. Houve retomada de algumas lutas até então estagnadas, apesar dos movimentos atrelados aos interesses do governo federal e do capital, que por essa razão se tornaram imobilizadores descarados.

Descontentes com a contínua recusa do governo Lula em realizar a tão prometida reforma agrária, o MST e outras forças menores dos sem terra esquentaram os meses de abril e maio, com ocupações de fazendas improdutivas, de terras devolutas griladas, de sedes regionais do INCRA e de outros espaços dos governos federal e estaduais. E isto apesar das violentas repressões e dos mandados judiciais de reintegração de posses (posses de terras griladas, como a Fazenda da CUTRALE).

Ora, a justiça neste país! Pena que o enfrentamento mais importante, diretamente com o governo Lula, não tenha ocorrido. Pena porque Lula prometeu à direção do MST que faria a reforma agrária "numa canetada". Usou de sua caneta para liberar, neste ano, a produção do milho transgênico e para entregar terras devolutas aos grandes fazendeiros grileiros, legalizando o que é ilegítimo.

O MST foi e continua sendo o movimento que mais dá ibope (pois a imprensa cai matando sobre ele em defesa dos latifundiários). Mas outros movimentos também colocaram as manguinhas de fora. Assim foi com os carteiros em todo o Brasil, com sua greve prolongada; os bancários não deixaram por menos e enfrentaram com galhardia os poderosos bancos nacionais e internacionais, numa greve de vários dias; metalúrgicos de várias cidades do país enfrentaram as montadoras, sobretudo ante as dispensas provocadas pela crise financeira que se abateu sobre o sistema neoliberal - por óbvio, não houve greves nos sindicatos ligados à Força Sindical.

Méritos maiores para sindicatos da Conlutas e da Intersindical. Professores universitários também tiveram seus movimentos reivindicatórios, assim como os sindicatos de funcionários da USP, por exemplo. Merece destaque a resistência dos petroleiros ao processo de cessão de áreas petrolíferas para a exploração de empresas internacionais, assim como à entrega do pré-sal. Neste caso - da luta em defesa do petróleo como exclusividade nacional -, contradições permearam o movimento, porque setores ligados ao governo federal, de um lado, e aos partidos da direita, do outro, se engalfinharam numa luta inglória (inglória para os trabalhadores) em denúncias de corrupção na Petrobrás ou em defesa da sua direção, neste caso, contra a implantação da CPI. Em ambas as posições, o que prevaleceu foram os mesquinhos interesses eleitoreiros e não uma postura verdadeiramente nacionalista.

Por outro lado, o povo estarrecido vem assistindo às seguidas denúncias de corrupção nas altas esferas políticas, seja na Câmara de Deputados, no Senado, no Judiciário ou ainda nos vários governos estaduais, com destaque para o governo gaúcho de Yeda Crusius e, mais recentemente, com o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Da quadrilha de Brasília fazem parte pelo menos mais 18 políticos ligados ao governador, todos envolvidos no novo mensalão, amplamente divulgado pela mídia televisiva e imprensa escrita.

Aconteceu algo de novo que foi a "unificação" do movimento sindical nacional na luta pela redução da jornada de trabalho, sem redução salarial. Muitos panfletos, discursos, entrevistas e até uma caminhada em Brasília. Esse "fato novo" se deve à aproximação entre as centrais que estão mancomunadas com o governo de um lado e a Conlutas e Intersindical do outro.

Porém, como já era de se esperar, tal movimentação serviu apenas para manter uma antiga bandeira de lutas, já que depois da Constituinte de 1988 - que reduziu a jornada para 44 horas semanais – jamais houve mobilização da classe trabalhadora para um enfrentamento real com os interesses do capital. Se não houver a paralisação da produção de bens capitalistas, nenhuma vitória é conseguida, como nos mostra a longa da história das lutas entre o capital e o trabalho.

E esse enfrentamento, uma greve geral, não aconteceu, o que deixa o capital muito senhor de si para simplesmente ignorar tais protestos vazios e inconseqüentes, que contam sempre com muita gente desempregada e aposentados, contratados pelo peleguismo para inchar suas manifestações.

Merece destaque os esforços da Conlutas e da Intersindical para organizar uma nova força sindical - que venha superar as limitações do sindicalismo pelego que vigora no país desde Getúlio Vargas. A proposta da nova organização sindical dá destaque para a organização de base, a inclusão dos desempregados e de vários movimentos sociais de trabalhadores em sua estrutura e planos de lutas. Se isto ocorrer, será, de fato, um enorme avanço na construção de novos e mais eficientes instrumentos de lutas dos trabalhadores.

Em nível mundial, merece citação o atual confronto entre as forças populares e os reacionários governos dos países capitalistas no encontro de Copenhague, por conta do aquecimento global. Os protestos populares vêm sendo reprimidos pela polícia, sempre em defesa dos interesses do capital.

Avanço pra valer se deu no setor da repressão oficial. Os esforços para criminalizar os movimentos sociais nos fazem lembrar os tempos da ditadura militar. As polícias dos vários estados da União não hesitaram em reprimir com selvageria as manifestações populares ocorridas durante o ano. É o sinal claro do recrudescimento dos conflitos entre o capital e o trabalho, com o aparato estatal sempre a serviço dos exploradores.

A perseguição aos sem terra do RS, envolvendo a máfia do Ministério Público estadual mancomunado com as empresas grileiras e com os tucanos do governo de Yeda Crussius, mereceu protesto no país inteiro; a repressão sobre os sem terras que ocuparam a sede da empresa Cutrale, as mentiras e meias-verdades veiculadas pela mídia sobre o episódio, negando a verdadeira história daquela fazenda, bem revelam o quanto governadores estaduais, imprensa e capital fazem parte da mesma quadrilha; a selvagem repressão sobre os cidadãos e cidadãs que exerciam seu legítimo direito de protesto ante as falcatruas do governo do Distrito Federal não deixa dúvidas do tipo de fascismo que impera neste país.

E, para coroar o ano de 2009, pudemos ouvir o presidente da República dizer que é preciso tirar o povo da m..., isto depois de sete anos de governo fazendo promessas e mais promessas que não se cumprem. Porém, da m... mesmo ele só conseguiu tirar as empresas que se disseram em dificuldades financeiras. Na m... continuam os serviços de saúde e de educação públicas, o saneamento básico, a moralidade pública...

Apesar disso tudo, Feliz Natal e melhor Ano Novo a todos os nossos leitores.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Latifundiário e bando armado torturam e assassinam camponeses

Em Buritis (RO), mais dois lutadores foram vítimas da crueldade e da sede de lucro insaciável do latifúndio. No dia 8 de dezembro, Élcio Machado e Gilson Gonçalves, coordenadores do acampamento Rio Alto, que abrigava quase cinquenta famílias, foram torturados e mortos por pistoleiros. O latifundiário Dilson Cadalto foi apontado como mandante do crime.

Abaixo, a nota da Liga dos Camponeses Pobres dá mais detalhes da frieza com que atuam os donos de terras. Agradecemos ao cartunista Latuff pela sugestão de pauta e pelas suas charges que também publicamos aqui.




Latifundiário e bando armado torturam e assassinam camponeses

Fonte: Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

No dia 8 de dezembro, mais dois jovens camponeses foram assassinados por lutarem pela terra em Rondônia. Élcio Machado, conhecido como Sabiá, e Gilson Gonçalves participavam com outras 45 famílias do Acampamento Rio Alto, em Buritis. Élcio era casado e pai de três filhos. Gilson também era casado, mas ele não chegou a conhecer seu filho que deve nascer daqui a quatro meses.

O latifundiário Dilson Cadalto foi o mandante, e seus pistoleiros foram os executores. Eles sequestraram os companheiros quando passavam de moto pela estrada que liga o acampamento à cidade de Buritis.

Amarraram os pés e as mãos de Élcio e Gilson e os torturaram durante horas. Quebraram seus dentes a coronhadas. Com alicates e facas arrancaram as unhas e tiras de couro das costas dos companheiros. Élcio levou um tiro no braço e teve sua orelha esquerda decepada. Ambos foram executados com um tiro de espingarda calibre 12 na nuca.

Este foi mais um crime anunciado. Há vários meses temos denunciado o clima de terror que Cadalto e seus pistoleiros impuseram aos camponeses acampados e vizinhos.

As terras do acampamento Rio Alto são de um antigo Projeto de Assentamento do Incra griladas por Cadalto. Ele tem ganhado rios de dinheiro com a venda de madeira da área e é testa de ferro do deputado estadual Tiziu Jidalias (PP), do ex-senador Amir Lando (PMDB) e de Sobral, delegado da polícia civil de Ariquemes.

Em julho, seu bando armado despejou o acampamento. Eles já chegaram atirando e atingiram um jovem no quadril. Depois colocaram fogo nos barracos, destruindo todos os pertences dos camponeses.

O gerente e afilhado de Cadalto, conhecido como Kaleb, é quem comanda os cerca de 14 pistoleiros. Eles ameaçaram de morte cinco coordenadores, dois camponeses vizinhos, dirigentes de uma Igreja e qualquer um que apoiar o acampamento. Tentaram assassinar dois camponeses que chegavam ao acampamento, que só não foram mortos porque pularam da moto e conseguiram se proteger na mata. Kaleb teria recebido R$200 mil de Cadalto para "limpar a área" e também um caminhão da família do vice-prefeito de Buritis.

Kaleb teria dito aos vizinhos do acampamento que quebrou os dentes dos dois coordenadores e que fará o mesmo com os outros acampados.

Viaturas da Polícia Militar de Buritis e do Comando de Operações Especiais de Ariquemes estiveram na sede da fazenda junto com os pistoleiros.

Veículos com placas frias estão fazendo ronda nas casas de apoiadores e coordenadores da LCP, em Buritis.

Quando a esposa de Élcio ainda aguardava notícias sobre o desaparecimento dos companheiros foi abordada por policiais à paisana no centro de Buritis que disseram com sarcasmo: “Nós te conhecemos. Agora não adianta mais levar bilhetinho para os coordenadores”.

Denunciamos estes e outros crimes inúmeras vezes. Mas a providência que o Ouvidor Agrário Nacional Gercino Filho e o Incra de Rondônia tomaram foi apoiar os crimes do latifúndio e atacar a justa luta dos camponeses pela terra. Como sempre! Gercino e o Incra deram carta branca ao latifúndio para matar, portanto também são responsáveis pelo assassinato de Élcio e Gilson.

Élcio era a principal liderança do acampamento, mas os pistoleiros não conheciam seu rosto. Foi numa reunião no Incra no dia 3 de dezembro que os pistoleiros que estavam presentes puderam identificá-lo. Mais uma vez o Incra cumpriu seu papel de dedurar líderes camponeses para os latifundiários executarem sumariamente.

Punição ao latifundiário assassino Dilson Cadalto, ao Kaleb e pistoleiros!
Corte imediato do PA Rio Alto e entrega das terras às famílias acampadas!
O povo quer terra, não repressão!


Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Programa “Manhã Maior” discute caso de racismo na USP com a presença de Wilson Silva

O programa Manhã Maior da RedeTV! debateu o caso de racismo ocorrido na USP com a estudante Luanda ocorrido no último dia 11 de novembro e que pode ser lido aqui e aqui. O programa contou com a participação do companheiro Wilson que foi fundador no núcleo de consciência negra da USP.

Pelicano: “Que Deus nos arrude, amém!”

quedeusnosarrude_pelicano

sábado, 5 de dezembro de 2009

A reunião que radicalizou a ditadura

reuniaoradicalizou

Já são 41 anos desde o 13 de dezembro de 1968. Vale a pena dar uma olhada no especial da Folha Online disponibilizado ano passado aonde se pode ouvir o áudio do voto de cada um dos participantes da reunião que votou pela instuição do AI-5.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O PV não é um partido de esquerda

“O PV não é um partido de esquerda. É um partido de visão progressista, mas não se enquadra nos moldes tadicionais. Temos diferenças em relação ao PSOL. Não tem uma ansiedade tóxica nem da parte deles, nem da parte nossa em relação a isso.”

Marina Silva, no último dia 26/11/2009, deixando claro que a frente PV-PSOL não é de esquerda, e o pior ainda é programática, ou seja, que existe um programa que não é de esquerda e é comum às duas legendas.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Blogosfera ocupada: PSTU Brasília

pstu-brasiliaOs companheiros de Brasília inauguraram hoje seu blog com uma matéria sobre o Fora Arruda. Vamos prestigiar a iniciativa dos camaradas.