terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Conversa de Rua: A caneta de dez cores

Mais um Conversa de Rua saindo do forno. A crônica de João Paulo da Silva de hoje trata de um diálogo entre pai e filho sobre o objeto de desejo do garoto e a dificulade do pai em atender. As vozes são de Giambatista Brito e seu filho de sete anos Caio Marques.

Desta vez publicamos o áudio em um outro serviço de armazenamento, também gratuito, o lifelogger. Quem quiser pode acessar a conta do Molotov lá clicando aqui. Mas para ouvir não precisa ir lá não. É só clicar no "play" aí embaixo. Não esqueçam de deixar a opinião nos comentários.

 

A caneta de dez cores

Por João Paulo da Silva

Alfredo lia o jornal quando o filho de seis anos se aproximou com uma caneta na mão e disse:

- Pai, quero outra caneta. Esta não funciona mais.

- Amanhã eu compro, filho. – respondeu sem tirar os olhos do jornal.

- Mas tem que ser igual a do Maurício.

- Por quê?

- Porque ela é grande, bonita e tem dez cores.

- Dez cores?! – assustou-se.

- Isso mesmo, pai. Dez cores.

Alfredo fechou o jornal, coçou a barba, olhou tristemente para o menino e falou:

- Desculpe, filho. Deve ser muito cara. Eu não posso comprar.

- Por quê?

- Porque nós somos pobres.

- Mas só nós?

- Não, filho. Um montão de gente também é.

- Poxa! É ruim ser pobre.

- É, filho. Se é.

- Por que é que o pai do Maurício pode comprar a caneta?

- Ele deve ser rico.

- Existe muita gente rica?

- Acho que sim, filho.

- Mais do que pobres?

- Com certeza que não.

O garoto calou-se por um instante, parecia estar submerso nos próprios pensamentos. Olhou intrigado para o pai e perguntou:

- Por que é que as coisas são assim?

- Assim, como?

- Uns podem ter. Outros, não. Uns são ricos e outros são pobres. Por quê?

Alfredo pensou, coçou novamente a barba e respondeu:

- São as regras, meu filho.

- Regras?

- Sim. Esse mundo em que vivemos tem suas regras. São elas que dizem o que a gente pode ou não fazer.

- Também são elas que dizem quem é pobre e quem é rico? – quis saber o menino.

Alfredo balançou a cabeça numa afirmativa.

- Não gosto das regras, pai.

- Eu também não, filho. Eu também não.

Fez-se um curto silêncio e, então, o menino disse:

- Sabe o que é que eu acho, pai?

- O quê?

- Todo mundo deveria ter canetas de dez cores.

4 comentários:

Anônimo disse...

bem melhor esse podcast. "esse conversa" de rua ficou muito bom

Anônimo disse...

isso é o q acontece qd a arte se funde com o pensamento revolucionário, nos proporciona prazer e ao mesmo tempo nos desperta pra o mundo.

Anônimo disse...

Achei que ficou muito bom, gostei muito, mas quero dar uma sugestão: acho que o audio deveria ser adaptado. a liguagem falada não é a mesma da escrita, tem passagens no texto que não precisam ser ditas no podcast, tipo as que identificam a pessoa que está falando ou expressões dos personagens.
ex:
"– assustou-se."
"Fez-se um curto silêncio e, então, o menino disse:"

uma outra alternativa é que a narração pudesse ser feita por um terceira pessoa, se bem que a voz do giambatista é muito boa!!

Anônimo disse...

Excelente história! Pois a mesma nos da uma ótima idéia de como educar as crianças,assim,não aceitando as "regras".