domingo, 2 de março de 2008

Fim de semana quente em Madrid

Barricada em chamas na sexta-feira

Quem assistiu os telejornais brasileiros no sábado ouviu uma notícia muito "mal contada". A notícia era de que na noite de sexta-feira, na cidade de Madrid, ocorreram "distúrbios" entre grupos de "extrema-esquerda" e de "extrema-direita" que "discordavam entre si sobre a questão dos imigrantes".

O que realmente ocorreu na noite de sexta-feira em Madrid foi um tanto diferente da versão dos telejornais brasileiros. Na verdade, um grupo de poucas dezenas de fascistas e de NEO-NAZISTAS que costumam agredir imigrantes, resolveu fazer uma manifestação de provocação na praça Tirso de Molina. Em resposta, centenas de ativistas anti-facistas de Madrid resolveram fazer uma contra-manifestação para impedir o ato nazi-fascista. A polícia, de forma escancarada, atacou os manifestantes anti-fascistas, para garantir a segurança dos fascistas e nazistas!

A intervenção da polícia mostrou de que lado está o Estado espanhol, que é a continuidade do Estado franquista-monárquico, e gerou grande revolta entre os manifestantes anti-facistas, que descontaram sua raiva nos verdadeiros donos do Estado: os grandes bancos e empresas. Várias agências de bancos como o BBVA foram apedrejadas durante os confrontos.

Esse começo "quente" do fim de semana em Madrid na sexta-feira foi apenas um dos exemplos da efervescência política na cidade. No dia seguinte, sábado, mais dois exemplos viriam na forma de manifestações importantes.

A primeira manifestação, iniciada às 18 horas, foi a manifestação do "dia nacional pela moradia digna", organizada pelo movimento "V de Vivienda" (uma referência ao filme "V de Vingança" - "vivienda" em castelhano significa "casa" ou "moradia").

Manifestação pela "vivienda digna"

As estimativas são de que quase 10 mil pessoas, na maioria jovens, participaram da manifestação, exigindo o fim da especulação imobiliária, que faz com que os aluguéis se tornem caríssimos e inacessíveis para a juventude trabalhadora, que recebe baixos salários. Este movimento pela desmercantilização da habitação, e pelo direito à moradia, está ganhando grande adesão em todo o país, não apenas entre a juventude, mas entre diversos setores do proletariado.

Ao final da manifestação pela moradia, uma parte dos manifestantes foi direto para outra passeata, convocada para as 20 horas. Dessa vez, uma manifestação de solidariedade e de apoio ao direito à auto-determinação dos povos.

Manifestação pela auto-determinação, contra as ilegalizações

O ato teve como objetivo repudiar os ataques do Estado espanhol contra as organizações da esquerda abertzale, do País Basco. Recentemente, duas organizações da esquerda independentista basca, a ANV e o EHAK, foram suspensas pela Justiça espanhola, primeiro passo para serem ilegalizadas, como já aconteceu com o partido Batasuna.

A manifestação em Madrid reuniu cerca de 700 pessoas, o que, por si só, já é inédito, em se tratando da capital do "Reino de España", onde qualquer um que seja contra as ilegalizações é acusado imediatamente de "terrorista".

Os acontecimentos deste fim de semana em Madrid mostraram que a temperatura da luta de classes está subindo. Um outro exemplo vem da greve dos motoristas de ônibus em Barcelona, que está recebendo grande apoio e solidariedade, e que deve continuar durante esta semana que está começando.

Dia 9 de março, próximo domingo, vão acontecer as eleições gerais espanholas. Ganhe quem ganhe, seja o PP de Aznar e de Mariano Rajoy, ou seja o PSOE de Zapatero, uma coisa é certa: não terão nenhuma trégua das lutas "en las calles" (nas ruas).

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