O camarada Álvaro Bianchi nos encaminhou a referência para o blog francês Mai68 que traz um manifesto lançado por intelectuais e ativistas políticos por ocasião dos 40 anos do maio francês. Segue o manifesto traduzido:
Um espectro assombra os defensores da ordem estabelecida: o espectro de Maio de 1968. Todas as potências do velho mundo se uniram numa santa aliança para exorcizar esse espectro: Nicolas Sarkozy, Luc Ferry, Claude Allègre e consortes... Não faltam nessa aliança nenhum daqueles e daquelas que têm como único horizonte intransponível o mundo tal como ele é, como se vivêssemos o fim da história.
Para a França “da ordem”, maio de 1968 é responsável por tudo. Nicolas Sarkozy não hesitou em fazê-la estremecer, agitando novamente o espectro. Trata-se, segundo ele, “de saber se a herança de maio de 1968 deve ser perpetuada ou se deve ser liquidada de uma vez por todas”. Essa liquidação atingiria não apenas os direitos sindicais, o salário mínimo e os benefícios sociais, mas também os avanços obtidos, entre outros, pelas lutas feministas.
Tal como um duende, o espectro de maio de 1968 sai do armário a cada 10 anos. É uma ocasião para exorcismos e orações fúnebres, enterros de primeira classe e cerimônias de adeus, celebrações solenes, impropérios e arrependimentos de todos os convertidos ao pensamento único.
É chegado o tempo de se reapropriar de maio de 1968, das realidades por trás dos mitos, do maio dos proletários (da greve geral e das ocupações), do maio da comuna dos estudantes, do maio dos muros que tomam a palavra, do maio das barricadas que fecham a rua e abrem a via, do maio que pavimentou o caminho das libertações e transformações sociais e societais obtidas ao longo da década seguinte, o maio que soprou sobre Berlim, Praga, Cidade do México ou Turim, levantando a esperança tanto quanto a crítica ao mundo realmente existente, com suas normas e evidências.
O que ocorreu depois disso não era o único caminho possível. Reflexões criticas coletivas e discordantes permitirão reencontrar a areia quente sob as greves e as esperanças, à luz de uma formidável experiência cujas marcas ainda subsistem.
Um conjunto de editores, revistas, jornais, sítios na internet, livrarias, institutos, fundações, lugares e espaços culturais que tentam interpretar o mundo para transformar a ordem das coisas, reuniu-se com o propósito de organizar, na próxima primavera, um “maio de 1968 que não seja apenas um começo, mas sim uma atualidade urgente”. É com este objetivo que eles lançam essa chamada, na França e além de suas fronteiras.
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