Como se não bastasse ser o primeiro diretório a defender a aliança com partidos burgueses nessas eleições, o PSOL gaúcho aceitou a doação de R$ 100 mil reais da GERDAU. Vale destacar que a GERDAU é o 13º maior produtor de aço do mundo.
A denúncia é do Vice Presidente Estadual do PSOL da Paraíba, David Lobão. É fundamental que desde as inúmeras cidades de todo o país, aonde PSTU e PSOL somaram em aliança eleitoral, esse ato seja repudiado de conjunto pela frente de esquerda.
Segue o conteúdo da carta do companheiro David Lobão.
Caros camaradas,
No último dia 14, foi apresentado pelo MES e aprovado por maioria na Executiva Municipal de Porto Alegre a proposta de aceitar um financiamento de R$ 100 mil do grupo Gerdau para a campanha de Luciana Genro.
Evidentemente o fato é gravíssimo se considerarmos que este foi um dos elementos constitutivos da degeneração política, da adaptação institucional e à ordem do Partido dos Trabalhadores. Não por acaso há inúmeros intelectuais e correntes de pensamento na esquerda brasileira que consideram um fator chave na virada do PT o momento em que as campanhas começaram a aceitar financiamento de bancos e empresas capitalistas.
A questão é grave porque não compromete apenas a candidatura de Porto Alegre, compromete o conjunto do partido, inclusive inúmeras e importantes campanhas como a de Chico Alencar no Rio de Janeiro, que tem como um dos seus diferenciais a questão do financiamento de campanha, usado para desmascarar por exemplo, candidaturas como a de Jandira Feghali (PCdoB), que vai procurar levantar R$ 5 milhões de reais na indústria naval do Rio de Janeiro, ou candidaturas como a de Ivan Valente, que tem como um dos seus eixos de campanha a defesa do financiamento público das campanhas eleitorais.
O grupo Gerdau é o 13º maior produtor de aço do mundo, com forte atuação nas áreas de construção civil e agropecuária. Têm fábricas e negócios em 13 países além do Brasil, ações cotadas nas bolsas de São Paulo e Nova York. Possui no Brasil 45 mil trabalhadores.
Não estamos falando de pequenos ou médios comerciantes, ou microempresários. Estamos falando de um dos setores da burguesia brasileira (o grupo é sediado no Rio Grande do Sul) que mais entrou no processo de internacionalização da globalização capitalista.
A decisão da maioria da executiva do PSOL de Porto Alegre fere frontalmente a carta compromisso dos candidatos do PSOL aprovada por consenso na 2ª Conferência Eleitoral do partido. Em item em 6 ela define claramente:
"6 - Estimular, para as campanhas, as doações cidadãs de pessoas físicas, examinando criteriosamente eventuais contribuições de pessoas jurídicas, excluídas as vedadas pelo estatuto partidário - bancos e multinacionais - e as de empresas com contenciosos trabalhistas e ambientais; (negrito nosso")
Só para ficar neste aspecto o grupo Gerdau tem ou teve contenciosos trabalhistas e ambientais registrados inclusive nos balanços da empresa, como os ocorridos em fábricas suas no Canadá e EUA, além de contenciosos trabalhistas no Brasil, denúncias de sindicato, entrevistas do seu presidente defendendo a reforma trabalhista e etc. Estamos enviando em anexo documentação sobre isso.
Os argumentos levantados por dirigentes do MES de que esta questão não é de princípio, que não muda o que vamos fazer, porque o partido controla tudo, o dinheiro e a campanha desconhecem inclusive a história recente da esquerda e as fontes da sua degeneração histórica, para dizer o mínimo.
Aceitar financiamento de grandes grupos capitalistas é o início da domesticação, é o início da perda de independência política do partido diante do Capital, pois nenhum capitalista joga dinheiro pela janela ou financia políticos e partidos sem se importar se está financiando seus algozes, trata-se de um mecanismo brutal de pressão econômica sobre o partido e sobre sues dirigentes e figuras públicas que vão, dessa forma, amenizando discursos, rebaixando programa, pela simples razão que quando se aceita este tipo de oferta começa-se a entrar na rota dos compromissos. Luis Eduardo Grenhalg foi um paladino em congressos da classe trabalhadora na defesa da famosa Carta ao povo brasileiro de Lula em 2002, dizia que aquilo era para enganar o FMI, que depois no poder, eles iam fazer o que queriam começando por pegar o FMI. Sabemos bem onde terminou o governo Lula e onde foram parar personagens como Grenhalg. Simplesmente isto não existe porque o grande capital não funciona assim e muito menos está sendo enganado.
A repetição na reunião do diretório de Porto Alegre de argumentos similares aos usados por dirigentes do PT para enganar os militantes (e talvez a si mesmos) é alarmante. Pois quem está cedendo é a candidatura que aceita o ônus de ter que defender este tipo de financiamento de um grupo capitalista que quer assumidamente acabar com a legislação trabalhista atual. Não é o grupo Gerdau que está vindo em direção ao socialismo, trata-se do contrário.
Informamos que consultamos os dirigentes das demais correntes da executiva: Poder Popular, APS e Enlace e todos se pronunciaram contrários a esta decisão de Porto Alegre e a consideraram equivocada. Isto é importante porque abre a possibilidade de se reverter esta gravíssima decisão de aceitar o financiamento do grupo Gerdau e também porque abre um espaço maior no partido para fazer esse debate e condenar de forma mais ampla este tipo de prática política que os dirigentes do MES querem trazer para dentro do PSOL. De toda forma, não sabemos se ainda será possível reverter a decisão, nem se dará tempo, nem se haverá uma reunião de executiva, embora formalmente a maior parte dela discorde da decisão tomada em Porto Alegre.
David Lobão – Vice Presidente Estadual do PSOL/PB
2 comentários:
Não foi somente o camarada da Paraíba. Eis a opinião de algumas correntes:
Um claro repúdio à decisão de Porto Alegre
Nota do SR, CLS, AS, ARS, Reage Socialista e outros dirigida aos militantes do PSOL
A decisão do PSOL de Porto Alegre, tomada por maioria do Diretório Municipal, de aceitar a polpuda oferta financeira feita pelo Grupo Gerdau, a gigante siderúrgica de origem brasileira e hoje portentosa multinacional, representa um ponto de inflexão na construção do partido. Uma clara tomada de posição é necessária por parte de todos os setores envolvidos no processo de recomposição da esquerda socialista no Brasil.
Como militantes do movimento sindical, estudantil e popular do campo e da cidade, assim como militantes que, em sua maioria, ajudaram a fundar o PSOL e todos comprometidos com sua construção, manifestamos um veemente repúdio a tal decisão, tomada à revelia da base partidária. Reivindicamos às instâncias de direção nacional a imediata anulação da deliberação de Porto Alegre e chamamos todos os militantes, independente de seu alinhamento interno, a manifestarem-se no mesmo sentido.
A decisão não fere apenas o Estatuto do partido e as resoluções aprovadas na 2ª Conferência Eleitoral do PSOL, sendo, portanto, de patente ilegalidade interna, mas atinge também e de forma profunda todo o acúmulo político sobre o qual o PSOL foi fundado e terá repercussões gravíssimas, se mantida.
Trata-se de mais um passo atrás, um retrocesso evidente em relação ao projeto original do PSOL. A decisão de Porto Alegre deve ser revertida e as lições desse episódio devem servir para a construção de outra política para o partido, uma política coerente com as reais aspirações da militância e da vanguarda ativa dos trabalhadores e da juventude que fundaram o PSOL.
A decisão da maioria do Diretório de Porto Alegre, defendida especialmente pela corrente MES, foi tomada em nome da aspiração de tirar o PSOL do isolamento e da mera posição de comentador da realidade. Para esses (as) companheiros (as), o maior risco do PSOL hoje não é a degeneração oportunista, como aconteceu ao PT.
O tema do financiamento das campanhas não é um tema secundário na diferenciação do PSOL em relação aos partidos da ordem. Para dar um exemplo concreto, no primeiro debate televisivo com os candidatos a prefeito em São Paulo, a primeira pergunta do companheiro Ivan Valente, candidato do PSOL, ao ex-governador tucano Geraldo Alckmin foi exatamente sobre quem estava financiando sua campanha. Ivan Valente, que se alinha com o campo majoritário do partido, corretamente mostrou que o PSOL era o único que não tinha rabo preso com empresários e banqueiros. Agora fica a questão: como responderemos se no próximo debate nos fizerem a mesma pergunta?
A resposta do MES, nessa situação, é simples: o que fizemos em Porto Alegre não é ilegal, está na prestação de contas pública da campanha e não tem nada que ver com mensalão ou coisa parecida. Mas, será que isso é suficiente para um partido como o PSOL? Nossas denúncias em relação ao mensalão petista e tucano e ao conjunto do sistema político-eleitoral do país nunca se limitaram às ilegalidades cometidas e que ficaram impunes. Nós sempre denunciamos o jogo de interesses entre grandes empresas, bancos e os políticos no financiamento de campanhas.
O MES ainda argumenta que o questionamento da decisão de Porto Alegre sobre o dinheiro da Gerdau, na verdade, é um questionamento global às políticas decididas na direção nacional e Conferência Eleitoral, entre elas, a política de alianças, uma política que abre caminho para a conciliação de classes.
Ao argumentar dessa forma, o MES tenta passar a idéia de que essa política de financiamento de campanha é parte das deliberações da direção nacional e da Conferência eleitoral. É preciso que se repita com firmeza que isso não é verdade.
Em nossa opinião, de fato, o precedente aberto com a aliança com o PV em Porto Alegre e tantas outras alianças com pequenos partidos de base social burguesa e/ou da base do governo Lula, criou condições para mais essa política que fere o mais elementar princípio da independência de classe.
Chamamos a todos e todas para se manifestarem e construirmos uma campanha nacional contra esse atentado ao PSOL democrático, independente, classista e socialista. Reivindicamos aquilo nos fez – e continua fazendo – militar no partido: construir uma ferramenta de luta conseqüente contra as reformas neoliberais e os governos que estão a serviço do capital e são capachos do imperialismo, como o governo Lula. Queremos uma ferramenta política que seja capaz de arrancar conquistas por meio da luta e organização dos trabalhadores e do povo pobre do Brasil.
24 de agosto de 2008
Primeiro signatários:
André Ferrari, Direção Nacional do PSOL, Socialismo Revolucionário (SR)
Miguel Leme, candidato do PSOL a prefeito de Taboão da Serra (SP)
Raquel Guzzo, candidata a vereadora pelo PSOL em Campinas (SP)
José Afonso da Silva, Diretório Estadual do PSOL de SP
Jane Barros Almeida, Rio de Janeiro (RJ), Coletivo Nacional de Mulheres do PSOL
William Rodrigues, candidato a vereador pelo PSOL em Fortaleza (CE)
Gerlane Ambrósio, PSOL de Aracaju (SE)
Robério Paulino, São Paulo, Coletivo Liberdade Socialista (CLS)
José Raimundo, Executiva Estadual do PSOL de MG
Eliana Lacerda, Belo Horizonte (MG), Presidente Federação Nacional dos Gráficos (Conlutas)
Zelito Ferreira, PSOL de Goiás
Ronaldo Delfino, candidato a vereador pelo PSOL em São Paulo
Marzeni Pereira, Executiva Municipal do PSOL de São Paulo
Mário Júnior, PSOL de Uberlândia (MG)
Neida Oliveira, Diretório Nacional e Executiva Estadual do PSOL do RS, Alternativa Socialista (AS)
Erico Corrêa, Executiva Nacional do PSOL
Maira Ávila, Executiva Estadual do PSOL do RS
Salete Posan Nunes, Diretório Estadual e Presidente do PSOL de Passo Fundo (RS)
Izaura Sales, Diretório Estadual do PSOL do RS
Diogo Moreno, Diretório Estadual do PSOL do RS
Jucele A. Comis, Diretório Estadual do PSOL do RS
Paulo Rolim, presidente do PSOL de Caxias do Sul (RS)
Raimundo Nonato, Executiva Estadual do PSOL
David Lobão é militante do CSOL e do Sindicato dos Professores.
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