quinta-feira, 28 de agosto de 2008

"O PSOL não está a venda"

A decisão do diretório municipal do PSOL de POA de aceitar o financiamento da Gerdau não pode ser aceita por nenhum militante honesto seja ele do PSOL ou não. A construção da Frente de Esquerda em vários lugares do país é uma vitória dos que querem construir um polo de resistência à degeneração oportunista que se abateu sobre a imensa maioria das correntes do movimento de massas. Os que construímos a Frente de Esquerda em todo o país estamos entre aqueles que não aceitamos o vale-tudo eleitoral. E ser financiado pela burguesia não vale.

Nos somamos a todos aqueles que desde o PSOL exigem a anulação da decisão do diretório municipal de POA. Abaixo publicamos carta assinada por 30 militantes do PSOL de todo o país que faz essa exigência.

O PSOL não está a venda!

Nota do SR, CLS, AS, ARS, Reage Socialista e outros dirigida aos militantes do PSOL

A decisão do PSOL de Porto Alegre, tomada por maioria do Diretório Municipal, de aceitar a polpuda oferta financeira feita pelo Grupo Gerdau, a gigante siderúrgica de origem brasileira e hoje portentosa multinacional, representa um ponto de inflexão na construção do partido. Uma clara tomada de posição é necessária por parte de todos os setores envolvidos no processo de recomposição da esquerda socialista no Brasil.
Como militantes do movimento sindical, estudantil e popular do campo e da cidade, assim como militantes que, em sua maioria, ajudaram a fundar o PSOL e todos comprometidos com sua construção, manifestamos um veemente repúdio a tal decisão, tomada à revelia da base partidária.
Reivindicamos às instâncias de direção nacional a imediata anulação da deliberação de Porto Alegre e chamamos todos os militantes, independente de seu alinhamento interno, a manifestarem- se no mesmo sentido.
A decisão não fere apenas o Estatuto do partido e as resoluções aprovadas na 2ª Conferência Eleitoral do PSOL, sendo, portanto, de patente ilegalidade interna, mas atinge também e de forma profunda todo o acúmulo político sobre o qual o PSOL foi fundado e terá repercussões gravíssimas, se mantida.
Trata-se de mais um passo atrás, um retrocesso evidente em relação ao projeto original do PSOL. A decisão de Porto Alegre deve ser revertida e as lições desse episódio devem servir para a construção de outra política para o partido, uma política coerente com as reais aspirações da militância e da vanguarda ativa dos trabalhadores e da juventude que fundaram o PSOL.
A decisão da maioria do Diretório de Porto Alegre, defendida especialmente pela corrente MES, foi tomada em nome da aspiração de tirar o PSOL do isolamento e da mera posição de comentador da realidade.
Para esses (as) companheiros (as), o maior risco do PSOL hoje não é a degeneração oportunista, como aconteceu com o PT, mas sim o isolamento e a marginalidade.
Diante desse argumento, nós respondemos categoricamente: a política dos (as) companheiros (as) tende a nos conduzir para o pior dos mundos, a transformação do PSOL numa seita marginal exatamente porque passou a adotar uma política oportunista, que não consegue diferenciar o partido do amontoado de siglas existentes.
O tema do financiamento das campanhas não é um tema secundário na diferenciação do PSOL em relação aos partidos da ordem. Para dar um exemplo concreto, no primeiro debate televisivo com os candidatos a prefeito em São Paulo, a primeira pergunta do companheiro Ivan Valente, candidato do PSOL, ao ex-governador tucano Geraldo Alckmin foi exatamente sobre quem estava financiando sua campanha. Ivan Valente, que se alinha com o campo majoritário do partido, corretamente mostrou que o PSOL era o único que não tinha rabo preso com empresários e banqueiros.
Agora fica a questão: como responderemos se no próximo debate nos fizerem a mesma pergunta?
A resposta do MES, nessa situação, é simples: o que fizemos em Porto Alegre não é ilegal, está na prestação de contas pública da campanha e não tem nada que ver com mensalão ou coisa parecida. Mas, será que isso é suficiente para um partido como o PSOL? Nossas denúncias em relação ao mensalão petista e tucano e ao conjunto do sistema político-eleitoral do país nunca se limitaram às ilegalidades cometidas e que ficaram impunes.
Nós sempre denunciamos o jogo de interesses entre grandes empresas, bancos e os políticos no financiamento de campanhas.
O MES ainda argumenta que o questionamento da decisão de Porto Alegre sobre o dinheiro da Gerdau, na verdade, é um questionamento global às políticas decididas na direção nacional e Conferência Eleitoral, entre elas, a política de alianças, uma política que abre caminho para a conciliação de classes.
Ao argumentar dessa forma, o MES tenta passar a idéia de que essa política de financiamento de campanha é parte das deliberações da direção nacional e da Conferência eleitoral. É preciso que se repita com firmeza que isso não é verdade.
Em nossa opinião, de fato, o precedente aberto com a aliança com o PV em Porto Alegre e tantas outras alianças com pequenos partidos de base social burguesa e/ou da base do governo Lula, criou condições para mais essa política que fere o mais elementar princípio da independência de classe dos trabalhadores em relação ao inimigo de classe. A linha geral de priorização da disputa institucional e a ausência de uma política conseqüente do partido para o movimento de massas e as lutas sociais podem, pouco a pouco, levar o PSOL a uma total descaracterização.
Mas, independentemente de qualquer avaliação que se faça de tudo isso, não se pode utilizar nenhuma deliberação formal das instâncias do partido para justificar a decisão tomada em Porto Alegre. A aceitação do dinheiro da Gerdau representa um descumprimento das deliberações tomadas pelo partido até agora.
Essa postura dos setores majoritários em Porto Alegre deixa claro que só é possível macular a essência do projeto político original do PSOL, distanciando- o das posições classistas, anti-capitalistas e socialistas, promovendo ao mesmo tempo uma série de atentados contra uma concepção democrática de partido. O giro à direita na política implica necessariamente que se pise na democracia interna em todos os sentidos.
O que está em jogo neste momento é o futuro do PSOL e dos enormes esforços de amplos setores no sentido de reconstruir uma alternativa de esquerda conseqüente que tire as principais lições da falência do PT.
O argumento de que um questionamento enfático por parte da militância contra a decisão de um setor do partido em Porto Alegre prejudicaria a campanha do PSOL não pode ser admitido. Prejuízo incalculável, isso sim, virá se a decisão for mantida. Essa discussão não se refere apenas a Porto Alegre. Militantes e candidatos do PSOL em todo o país terão que arcar com o peso dessa decisão, uma decisão que não tomaram e sequer foram chamados a opinar sobre. É um direito e um dever desses candidatos e militantes buscarem diferenciar- se abertamente daquela decisão, rejeitando-a de forma categórica e buscando revertê-la. Por isso, companheiros e companheiras é o momento de unir o máximo possível de militantes coerentes com o projeto original do PSOL e evitar um retrocesso brutal para o partido. A unidade contra a decisão de Porto Alegre precisa levar em consideração as lições desse processo para o futuro do partido e ajudar a construir uma alternativa política conseqüente aos rumos atuais do PSOL.
Chamamos a todos e todas para se manifestarem e construirmos uma campanha nacional contra esse atentado ao PSOL democrático, independente, classista e socialista. Reivindicamos aquilo nos fez - e continua fazendo - militar no partido: construir uma ferramenta de luta conseqüente contra as reformas neoliberais e os governos que estão a serviço do capital e são capachos do imperialismo, como o governo Lula.
Queremos uma ferramenta política que seja capaz de arrancar conquistas por meio da luta e organização dos trabalhadores e do povo pobre do Brasil.
24 de agosto de 2008
Primeiro signatários:
André Ferrari, Direção Nacional do PSOL, Socialismo Revolucionário (SR)
Miguel Leme, candidato do PSOL a prefeito de Taboão da Serra (SP)
Raquel Guzzo, candidata a vereadora pelo PSOL em Campinas (SP)
José Afonso da Silva, Diretório Estadual do PSOL de SP
Jane Barros Almeida, Rio de Janeiro (RJ), Coletivo Nacional de Mulheres do PSOL
William Rodrigues, candidato a vereador pelo PSOL em Fortaleza (CE)
Gerlane Ambrósio, PSOL de Aracaju (SE)
Robério Paulino, São Paulo, Coletivo Liberdade Socialista (CLS)*
José Raimundo, Executiva Estadual do PSOL de MG
Eliana Lacerda, Belo Horizonte (MG), Presidente Federação Nacional dos Gráficos (Conlutas)
Zelito Ferreira, PSOL de Goiás
Ronaldo Delfino, candidato a vereador pelo PSOL em São Paulo
Marzeni Pereira, Executiva Municipal do PSOL de São Paulo
Mário Júnior, PSOL de Uberlândia (MG)
Neida Oliveira, Diretório Nacional e Executiva Estadual do PSOL do RS,*** Alternativa Socialista (AS)*
Erico Corrêa, Executiva Nacional do PSOL
Maira Ávila, Executiva Estadual do PSOL do RS
Salete Posan Nunes, Diretório Estadual e Presidente do PSOL de Passo Fundo (RS)
Izaura Sales, Diretório Estadual do PSOL do RS
Diogo Moreno, Diretório Estadual do PSOL do RS
Jucele A. Comis, Diretório Estadual do PSOL do RS
Paulo Rolim, presidente do PSOL de Caxias do Sul (RS)
Raimundo Nonato, Executiva Estadual do PSOL do PA,*** Alternativa Revolucionária Socialista (ARS)*
Manoel Ovídio, Diretório Estadual do PSOL do PA
Maria do Carmo, candidata a vereadora pelo PSOL em Belém (PA)
José Gilmar Júnior, Executiva do PSOL de Castanhal (PA)
José Pires de Araújo, Diretório do PSOL de Marituba (PA)
Daniel Souza, PSOL de Niterói (RJ),*** Reage Socialista*
Pedro Martins, PSOL de Niterói (RJ), Reage Socialista
Jorge Cesar, PSOL-RJ, SEPE-RJ de Mesquita

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