Após o trágico incidente do assassinato de um estudante dentro do campus Butantã da Universidade de São Paulo, o reitor João Grandino Rodas firmou um convênio com a Polícia Militar, permitindo sua entrada na Universidade por mais cinco anos, sob o argumento de um suposto combate à violência no campus. Alguns meses depois, é possível afirmar que o problema de segurança está longe de ser solucionado. A PM não resolveu nosso problema; pelo contrário, iniciou um processo de perseguição e controle dentro da Universidade.
Todos os dias estudantes e funcionários são abordados e revistados, mesmo nas portas dos prédios e bibliotecas. A Polícia já entrou em Centros Acadêmicos e prédios de aula, interferindo diretamente nos espaços que deveriam permitir um debate livre e democrático de ideias. E a violência segue. Assaltos e estupros continuam ocorrendo e o clima de medo permanece na Universidade.
No último dia 27, policiais militares abordaram três estudantes na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), porque eles portavam maconha. Centenas de estudantes se reuniram para repudiar a ação da polícia no campus. Um grande ato foi realizado. A Polícia Militar teve que se retirar, mas não sem demonstrar a que veio: mais uma vez utilizou dentro do campus de instrumentos de repressão aos estudantes, com bombas e balas de borracha.
Reunidos em assembleia logo após este trágico acontecimento, os estudantes decidiram ocupar o prédio da Administração da FFLCH. Nós, da Juventude do PSTU, fomos contra a ocupação naquela assembleia. Avaliamos que a luta contra a PM no campus é fundamental, uma pauta crucial de ser levada à frente por toda a esquerda dentro da Universidade. Mas não concordamos que essa luta deva se dar de maneira isolada. Devemos buscar o apoio de mais estudantes em toda a USP, construir uma grande mobilização e usar dos métodos mais radicais do movimento, como as ocupações, a partir do momento em que eles aproximem mais pessoas e disputem a opinião pública para as nossas posições. Ocupar naquele momento significava isolar a vanguarda do movimento, e essa não é a melhor forma de construir uma mobilização vitoriosa. Contudo, a opinião favorável à ocupação foi majoritária e nós, respeitando às deliberações de um fórum legítimo do movimento estudantil, construímos essa ocupação.
Estivemos nas comissões, construímos o ato contra a PM no campus no dia 31, e passamos todos os dias seguintes dentro da Administração da FFLCH. No dia 01 de novembro, fizemos uma grande assembleia que, após horas de debate político, votou por desocupar a Administração da FFLCH. A avaliação feita pela maioria dos estudantes naquele momento foi a de que era necessário ampliar o alcance da mobilização contra a Polícia no campus, e que a ocupação não era o instrumento apropriado para isso neste momento. Havia a proposta da construção de um calendário de lutas, que inclui um ato em frente ao Conselho Universitário no dia 08 de novembro.
A assembleia terminou um pouco após essa votação. Passado das 23h, estudantes se levantaram pedindo o fim da reunião para que pudessem voltar para suas casas, e a assembleia foi oficialmente encerrada aproximadamente às 23h30. Contudo, alguns membros de correntes políticas como a LER-QI, o PCO e o MNN se autodenominaram a continuidade da assembleia e votaram a ocupação imediata da Reitoria da Universidade.
Democracia se faz com respeito à opinião da maioria dos estudantes
O PSTU reivindica a democracia operária em todos os movimentos dos quais faz parte. Para nós, as decisões do movimento devem ser tomadas em reuniões abertas à participação de toda a base, onde as opiniões da maioria definem legitimamente os rumos do movimento.
É por este motivo que, mesmo discordando, ocupamos a administração da FFLCH. E é por esse motivo que hoje não apoiamos como método legítimo da luta atual dos estudantes da USP a ocupação da Reitoria.
Somos contra a construção do movimento isolada dos estudantes. Para nós, é tarefa dos lutadores ganhar cada dia mais estudantes para as nossas opiniões e atividades. E parte disso é respeitar a opinião da maioria mesmo quando somos contrários a ela.
A assembleia do último dia primeiro deliberou pela desocupação da Administração da FFLCH. O recado dos estudantes foi claro: continuar a luta contra a PM no campus, mas não manter o método da ocupação. Quem decidiu ocupar o fez à revelia da opinião da maioria, e este é um erro grave.
O método da calúnia e das mentiras não faz parte do movimento democrático
A acusação de que a Juventude do PSTU fez acordo com a Reitoria da USP para terminar a ocupação da Administração da FFLCH é absolutamente falsa. E mentiras como essa não fazem parte da concepção de movimento historicamente defendida pela esquerda.
Estamos ao lado dos estudantes e do movimento estudantil combativo contra a Polícia no campus e contra a Reitoria. Nossa corrente se constrói há anos nas lutas. Estivemos em todas as greves e ocupações da USP. Somos parte da disputa por outro projeto de educação e universidade. Acusar-nos do contrário não passa de uma grande mentira.
Defendemos a desocupação abertamente e apresentamos os argumentos para tal. Não acreditamos ser essa a melhor tática para o movimento agora. Mas não negociamos com a Reitoria por fora do movimento, e não o faremos em nenhum momento. Não é este o nosso papel nem nossa concepção. Nos submetemos às decisões do movimento e não faremos nenhuma ação desse tipo por fora.
Por outro lado, não aceitamos esse tipo de calúnia. Isso tudo faz parte de um método que não ajuda o movimento, mas o divide. E a responsabilidade é dos mesmos grupos que ocuparam a reitoria sem legitimidade nos fóruns do movimento. Ou seja, de grupos que, sob a falsa pretensão de serem os mais radicais e combativos, são burocráticos e não respeitam os métodos, o programa ou a moral do movimento, seguindo apenas e tão somente sua própria opinião e seus interesses.
Em defesa dos lutadores! Contra a repressão!
Apesar de discordarmos da ocupação e da metodologia com que foi feita, não aceitamos nenhuma repressão aos estudantes que ocuparam. Queremos deixar claro que repudiamos qualquer tipo de atitude violenta por parte da reitoria para reprimir o movimento e somos contrários a qualquer processo contra estudantes e trabalhadores. Exigimos também a revogação completa dos processos criminais e administrativos que existem contra companheiros da Universidade.
Um chamado à unidade na luta contra a Polícia no campus
Continuaremos nesta luta. Não podemos aceitar a Polícia Militar na Universidade, sob qualquer desculpa. Queremos uma universidade segura, mas para isso defendemos outras alternativas: mais iluminação e alternativas de transporte no campus, ocupação de seus espaços pela população, contratação e treinamento de uma guarda universitária concursada, que seja composta por funcionários treinados para a identificação e prevenção dos problemas de segurança, em especial com um corpo feminino que responda aos casos de violência contra as mulheres. Somos contra a PM no campus porque sabemos que seu papel é outro – abordar estudantes e trabalhadores, observar e reprimir o movimento organizado, impedir o clima de livre difusão de ideias, tão importante à autonomia universitária.
Convidamos a todo o movimento estudantil e aos movimentos sociais a participarem da luta, com o calendário que o movimento estudantil, a partir de suas entidades e fóruns, defende para os próximos dias:
Ato em frente ao Conselho Universitário no dia 08/11/2011 a partir das 10h
Aula pública na FFLCH no dia 08/11/2011 a partir das 18h
Defendemos a realização de uma nova assembleia geral dos estudantes para continuar a discussão e organizar nossos próximos passos.
Pela revogação imediata do Convênio entre a PM e a USP!
Fora PM do campus!
Nenhum comentário:
Postar um comentário