O Velho Chico já anda tão cansado, maltratado e doente que caso a transposição seja levada adiante, assistiremos a um dos maiores crimes ambientais dos últimos anos. As comunidades que moram nas margens do rio, em especial os povos indígenas da região, costumam dizer que não tem como um anêmico doar sangue.
Só pra dar um exemplo, praticamente todo o esgoto urbano e industrial de Belo Horizonte é despejado nos afluentes do São Francisco. As comunidades ribeirinhas que não tem saneamento básico despejam todo seu esgoto lá no Velho Chico. E por aí vai.
O governo inclusive admite que o rio precisa ser revitalizado, mas ao invés de bancar um projeto real de recurperação do são francisco, quer tocar a todo o custo a transposição e ainda tem a cara de pau de dizer que já está até trabalhando na revitalização. O que é uma grande mentira.
Mas esse nem é o principal problema.
O problema mesmo é que a transposçião não vai acabar com a seca nem com a sede do povo nordestino. A água ao invés de ir pra quem dela precisa pra sobreviver, vai mesmo é encher de dinheiro os bolsos das empreiteiras e dos latifunidários da região.
E no fim das contas só vai beneficiar o grande empresário, aquele que irriga para exportar os seus produtos, o criador de camarões, o cultivador de flores. A população que depende dos carros pipa pra sobreviver em época de seca não vai ver uma gota sequer das águas do rio. Vamos assistir ao espetáculo do crescimento da indústria da seca.
Até por que o problema do nordeste e do Ceará, não é nem de seca é de cerca. O nordeste possui o maior volume de água represado em regiões semi-áridas do mundo. Metade dessa água está no Ceará, mas a água não chega pra quem realmente precisa, por que as cercas das propriedades privadas apartam o homem do campo, de uma das necessidades mais elementares para a sobrevivência: a água.
Então o que fazer?
Em primeiro lugar, derrubar as cercas. Impulsionar uma reforma agrária nesse nordeste que permita a distribuição tanto da terra como da água.
Em segundo lugar interromper esse projeto que vai entregar 4 bilhões e meio de reais pras empreiteiras se lambuzarem. Caso esse dinheiro fosse, por exemplo, investido na construção de cisternas, o que permitiria uma distribuição social das águas, seria possível construir mas de 3 milhões de cisternas.
Uma cisterna de 15 mil litros, tem capacidade de abastecer uma família de 5 pessoas, durante 8 meses sem chuvas. Com uma vantagem: quando bem manejadas, as águas das cisternas não se contaminam.
Ao invés de entregar essa fortuna às empreiteiras, se faz um projeto de desenvolvimento social, tanto das populações ribeirinhas como dos sertanejos que sofrem com a seca, garantindo aí:
- Recurperação do rio São Francisco;
- Verba para construção de cisternas;
- Fundo para reformas de telhados e construção de terreiros para aumentar a área de captação das águas da chuva;
- Treinamento para a utilização de técnicas corretas de irrigação como as mandalas, barragens subterrâneas e “barraginhas”
Mas isso não interessa ao governo Lula. O melhor mesmo é esbanjar o dinheiro público, encher o bolso de seus amigos das empreiteiras e do agronegócio (nome mais bonito pra latifundiário) e fazer muita propagandoa com musiquinha pra enganar o povo pobre desse país.
Para ler mais sobre o assunto:
- "São Francisco: a dança das águas", de Joaquim Magalhães, publicado no portal do PSTU.
- "Campanha contra a transposição do Rio São Francisco", publicado pelo Conselho Indigensta Missionário, CIMI.
- Entrevista de João Suassuna concedida ao Centro de Mídia Independente, CMI.
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