Quem se lembra dessa história? Aconteceu em 1996.
Por causa da letra da música "Veja os cabelos dela", o palhaço-cantor Tiririca foi processado por organizações do movimento negro. Os rumos que esse processo seguiu constituem um bom exemplo de como a Justiça brasileira costuma tratar casos de discriminação racial.
Ao receber a denúncia, a juíza Flávia Viveiros de Castro, do Rio de Janeiro, concordou com o argumento de que a letra era ofensiva à comunidade negra e feria a legislação em vigor. Por esse motivo, a juíza mandou recolher os CDs que continham a canção.
A gravadora de Tiririca era a poderosa multinacional Sony Music. Seus dirigentes trataram de mobilizar o apoio dos fãs de Tiririca e de alguns de seus artistas contratados. Ao mesmo tempo, muitos intelectuais se pronunciaram contra o que consideravam uma defesa da censura por parte do movimento negro.
A linha de ação da defesa foi apresentar Tiririca como um artista humilde que estaria sendo acusado por militantes raivosos. Mais do que isso: Tiririca era ele próprio um negro e a letra de sua canção seria na verdade uma bem-humorada homenagem à sua esposa. O juiz encarregado do processo resolveu aceitar as absurdas alegações da defesa.
Quem iria homenagear um ente querido chamando-o de "gambá" e "fedorento"? Tiririca acabou absolvido. Meses mais tarde a esposa se separou dele depois de sofrer uma surra impiedosa que deixou seu corpo cheio de hematomas.
Esta é a música que foi absolvida. Talvez antes devêssemos discutir o conceito de arte...
Veja os cabelos dela
Alô, gente, aqui quem fala é o Tiririca
Eu também estou na onda do axé music
Quero ver os meus colegas tudo dançando
Veja, veja, veja os cabelos dela
Parece bombril de ariar panela
Quando ela passa, me chama atenção
Mas seus cabelos não têm jeito não
A sua catinga quase me desmaiou
Olha, eu não aguento o seu fedor
Veja, veja os cabelos dela!
Parece bombril de ariar panela
Eu já mandei ela se lavar
Mas ela teimou e não quis me escutar
Essa nega fede! Fede de lascar
Bicha fedorenta, fede mais que um gambá
Veja, veja, veja os cabelos dela
Como é que é
A galera toda aí com as mãozinhas para cima
Veja, veja os cabelos dela!
Bonito, bonito
Aí, morena, você, garotona
Veja, veja, veja os cabelos dela
5 comentários:
Arte para acéfalos.
Não vejo nada de mais nesa música, não está na mnha discoteca, mas acho que sim foi censura. do mesmo jeito que o funk carioca não é censurado , nem o rap que quase chama o povo para a chacina da classe dominante. existe uma grande bsteira do brasileiro de não aceitar brincadeiras, o humor é feito para falar mal das pessoas e com isso fazer rir... grande bobagem...
Tiririca é sub-sub-arte, mas não vejo nesse letra, sinceramente, nenhum racismo.
Apenas um humor (sic) de péssimo gosto.
Péssimo gosto, aliás, foi terem eleito esse cidadão.
Racismo sim, absurdo pessoas acharem graça da própria desgraça...
Eu escrevi um texto sobre o Tiririca antes da eleição: http://blogsidcerveja.blogspot.com/2010/09/o-cobrador-de-onibus-e-o-tiririca-na.html
É um erro atentar só para o racismo (que, de fato, existe, mesmo com as pessoas o naturalizando). É explicíto também a opressão machista, sobre a qual, infelizmente, ninguém protestou ou colocou Tiririca na Justiça:
"Eu já MANDEI ela se lavar
Mas ela TEIMOU e não quis me escutar"
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